quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

O CAMPO ACORDA (Paulo F. Barboza - 1968)

À orquestra de galos

o campo acorda

camponeses,

enxadas,

foices e martelos

partem para o dia.

Seguem nas mãos

ásperas e calosas

a face da mulher

e dos filhos

isolados

seguem a rotina da existência

no abandono

o homem segue

ferindo a terra

com seu suor.

(1968)

NOSSA FLORESTA (Paulo F. Barboza - 1968)

A nossa floresta

tem leões temerosos

da perda de seus tronos.


Se empenharam

com leões mais nutridos

conseguiram garras mais potentes.


Os papagaios

começaram a gritar

querendo as falsas realezas destronar.


Depenaram os papagaios.


Eu vi o macaco

comentando com a coruja

sobre um plano.


Um plano

que colocará os ferozes

no plano que deveriam estar.


Meu otimismo

me leva a acreditar

que as falsas realezas não vão mais reinar

e nossa floresta feliz

igualando os direitos

do leão e da perdiz.

(1968)







tem leões temerosos

P E S C A D O R (Paulo F. Barboza - 1967)

Pesca dia

pesca noite

de sol a sol

sai a pescar

pescando frio

no vazio azul do mar.

A vida azul

no azul do mar

o pescador

vive a pescar

porém na peixaria

o pescador só da ninharia.

Nas malhas da rede - lucro

sempre pescam o pescador

só o mar azul

alivia a sua dor.

(1967)

MAR TEMPESTUOSO (Paulo F. Barboza - 1967)

De nuvens sombrias

o mar, negro ficou

seres desnorteados

esperam o fim da tempestade

e o mar escurece

cada vez mais.


As nuvens dispersarão

os seres se orientarão

encontrando a direção.


O mar clareando

a fome indo

o sol surgindo

o mundo endireitando.

(1967)

MAR DE HOMENS (Paulo F. Barboza - 1967)

O mar despreocupado

sem horário, sem moral

e o homem é tão igual...


A brisa perdida

diluída em temporais.

A vida perdida

em coisas más

e a bala vazia

mata o amor.

Homens sem amor

como pedras frias.


O calor dum canhão

são vidas que rolam no chão

não é temperatura de amor.

(1967)

LIBERDADE PRESA E TRISTE (Paulo F. Barboza - 1967)

Minha liberdade

se desfez em destroços

se desfez em maldades

e em fome.

Minha liberdade...


Olhos lindos

passaram

querendo.


O mundo em guerra

o céu no chão

amor em vão.


Minha liberdade

em tristezas

minha liberdade

presa...

(1967)

BARULHO (Paulo F. Barboza - 1967)

Barulho

vozes

barulho

automóveis

buzinas

de gente

silêncio?

Não, barulho

ruídos, gemidos

barulho

de avião

de bombas

da broca do ondontólogo.

Barulho

no chão

no ar

no mar.

Acho que surdo

sentiria

saberia

o barulho.

(1967)

VITRINE DE RESTAURANTE (Paulo F. Barboza - 1966)

Pernil assado

um doirado

lagosta e camarão

Jão

nem mais de arroz

e feijão

com fome nauseante

contempla

a vitrine do restaurante.


Deprimente é

a fome

de seus filhos

e muié.


Jão

mesmo à mão

assaltou

persona importante

por causa

da vitrine do restaurante.

(1966)

TIQUE-TAQUE (Paulo F. Barboza - 1966)

Tique-taque

Tique-taque

o relógio fala

pronuncia o tempo.

Momento parado.

Parado, deitado.

Tique-taque

tenho medo

minha vida

tique-taque.

(1966)

LUZ AO LONGE (Paulo F. Barboza - 1966)

Uma luz ao longe

nela há pensamentos

alegrias, sofrimentos.


Uma luz ao longe

nela há amor

ódio, temor.


Uma luz ao longe

nela, estamos nós

todos nós.

Lutemos

para que não se apague.

(1966)

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