segunda-feira, 2 de março de 2009

DESEMPREGADAO (Paulo F.Barboza - 1985)

Estou desempregado,

desanimado,

sem energia,

esfomeado

na noite, no dia.

O que ainda anima

é a descarga de adrenalina

quando à noite

os gritos e gemidos de açoite

do João na Jorgina.

Nem o biscate

já vendi o alicate

não consegui ser mascate

talvez me mate.

Invejo o cão

que, por entre as mesas da vida

consegue restos de comida

Ah! Se eu fosse um cão...

seria enxotado com cerveja

ouviria um samba-canção

alguém num violão.

Abro o jornal

que jogaram fora

nenhum sinal

que possa, sem demora,

solucionar o meu mal.

(1985)

OLHAR PERDIDO (Paulo F. Barboza - 1970)

De olhos em olhos

perdi meu olhar.

Meu corpo solto

a vagar

na armagura de cada olhar.

Cada segredo imerso

na imensidão do universo

tento encontrar...

mas não sei olhar.

(1970)

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

O CAMPO ACORDA (Paulo F. Barboza - 1968)

À orquestra de galos

o campo acorda

camponeses,

enxadas,

foices e martelos

partem para o dia.

Seguem nas mãos

ásperas e calosas

a face da mulher

e dos filhos

isolados

seguem a rotina da existência

no abandono

o homem segue

ferindo a terra

com seu suor.

(1968)

NOSSA FLORESTA (Paulo F. Barboza - 1968)

A nossa floresta

tem leões temerosos

da perda de seus tronos.


Se empenharam

com leões mais nutridos

conseguiram garras mais potentes.


Os papagaios

começaram a gritar

querendo as falsas realezas destronar.


Depenaram os papagaios.


Eu vi o macaco

comentando com a coruja

sobre um plano.


Um plano

que colocará os ferozes

no plano que deveriam estar.


Meu otimismo

me leva a acreditar

que as falsas realezas não vão mais reinar

e nossa floresta feliz

igualando os direitos

do leão e da perdiz.

(1968)







tem leões temerosos

P E S C A D O R (Paulo F. Barboza - 1967)

Pesca dia

pesca noite

de sol a sol

sai a pescar

pescando frio

no vazio azul do mar.

A vida azul

no azul do mar

o pescador

vive a pescar

porém na peixaria

o pescador só da ninharia.

Nas malhas da rede - lucro

sempre pescam o pescador

só o mar azul

alivia a sua dor.

(1967)

MAR TEMPESTUOSO (Paulo F. Barboza - 1967)

De nuvens sombrias

o mar, negro ficou

seres desnorteados

esperam o fim da tempestade

e o mar escurece

cada vez mais.


As nuvens dispersarão

os seres se orientarão

encontrando a direção.


O mar clareando

a fome indo

o sol surgindo

o mundo endireitando.

(1967)

MAR DE HOMENS (Paulo F. Barboza - 1967)

O mar despreocupado

sem horário, sem moral

e o homem é tão igual...


A brisa perdida

diluída em temporais.

A vida perdida

em coisas más

e a bala vazia

mata o amor.

Homens sem amor

como pedras frias.


O calor dum canhão

são vidas que rolam no chão

não é temperatura de amor.

(1967)

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